Anúncio de Trump é alívio para o Brasil e abre oportunidade, dizem especialistas

Especialistas avaliam impacto da medida e apontam possíveis vantagens para setores brasileiros

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante evento em que anunciou sobretaxas para parceiros comerciais, entre eles o Brasil - Carlos Barria/2.abr.25/Reuters

A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 10% sobre produtos brasileiros importados foi recebida como um alívio por especialistas. Embora a medida afete setores específicos da indústria e exportações, analistas apontam que o Brasil não está entre os principais alvos do governo americano.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (2) e incluiu tarifas mais pesadas para outros parceiros comerciais, como China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%). A tarifa mais branda para o Brasil sugere que o país não é considerado uma ameaça econômica significativa pelos EUA.

Brasil pode ganhar espaço em setores estratégicos

Para Fernanda Brandão, professora de relações internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rio, a decisão pode beneficiar setores brasileiros, especialmente manufaturas básicas, como a indústria têxtil.

"O ajuste de preferência pelo produto nacional [americano] não é automático, e a produção dos EUA de alguns bens não é suficiente para atender a demanda doméstica. Assim, o país continuará comprando do exterior, e o Brasil pode ganhar mercado em relação a concorrentes que foram mais tarifados", explica Brandão.

Pedro Brites, professor de relações internacionais da FGV-SP, avalia que, apesar do impacto para setores como aeronáutico e siderúrgico, o Brasil não será tão afetado quanto outras economias.

"Não me parece que o efeito será imediato e tão impactante para nós como será para a China", afirma.

Já o economista André Perfeito destaca que o Brasil teve um desfecho mais favorável que outros países.

"As tarifas saíram baratas para o Brasil, o que faz sentido, já que temos déficits comerciais contra os EUA e, por isso, não seríamos alvo neste momento", analisa.

Impacto pode ser menor do que o esperado

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a nova tarifa não é motivo para comemoração, mas também não representa uma grande ameaça.

"Pode dificultar alguma exportação, mas pouca coisa. Se conseguirmos administrar nossos custos de produção, teremos a oportunidade de exportar mais para os EUA, incluindo manufaturados, e não apenas commodities", destaca Castro.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) adotou um tom cauteloso e afirmou que a medida precisa ser analisada com mais profundidade.

"O impacto dependerá de como nossos concorrentes foram tarifados. Se enfrentarem taxas mais altas, o Brasil pode ter uma vantagem competitiva, já que o custo adicional será repassado ao consumidor americano", disse Flávio Roscoe, presidente da Fiemg.

Setor calçadista e siderúrgico avaliam cenários

No setor calçadista, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) acredita que a tarifa sobre concorrentes como China, Vietnã e Indonésia pode abrir oportunidades para o Brasil.

"Esses países perderão competitividade no mercado americano, o que pode aumentar nossas exportações", afirma Haroldo Ferreira, presidente da entidade.

Por outro lado, Ferreira alerta que esses países podem redirecionar sua produção para mercados onde o Brasil também exporta, aumentando a concorrência global.

O setor siderúrgico também acompanha de perto os desdobramentos. Produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, estão entre os principais itens exportados pelo Brasil para os EUA. Em 2023, o Brasil vendeu US$ 2,66 bilhões em aço para os americanos, sendo um dos três maiores fornecedores, ao lado de México e Canadá.

Outras tarifas e impactos no comércio bilateral

Trump já havia imposto tarifas sobre aço e alumínio de diversos países, além de taxar em 20% todas as importações da China. Recentemente, o republicano anunciou novas tarifas sobre automóveis importados, o que pode afetar o setor de autopeças brasileiro. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,3 bilhão em componentes automotivos para os EUA.

Além disso, Trump adiou a tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México para pressioná-los a reforçar o combate ao tráfico de drogas e à imigração ilegal, embora essa medida esteja prevista para expirar nesta quarta-feira.

Os especialistas alertam que, apesar de o Brasil ter escapado de uma tarifação mais dura, o cenário global ainda exige atenção, principalmente diante da disputa comercial entre EUA e China e das possíveis oscilações nas políticas econômicas americanas.

Fonte: Folha de S. Paulo

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