Exportação e mudanças climáticas impulsionam alta dos alimentos no Brasil, aponta estudo da FGV

Inflação da comida cresce mais que a geral; especialistas apontam queda na produção e priorização do mercado externo

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A inflação dos alimentos tem subido em ritmo superior ao da inflação geral no Brasil, e um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta os principais motivos: mudanças climáticas, valorização das exportações e desaceleração no crescimento da produção agrícola destinada ao consumo interno.

De acordo com a pesquisa, entre 2012 e 2024, os preços dos alimentos consumidos em casa subiram 162%, enquanto o IPCA geral acumulou alta de 109%. Essa diferença reflete a dificuldade do setor agrícola em atender à demanda da população.

Clima, câmbio e exportação impulsionam preços

Destruição causada por enchentes na cidade de Muçum, no Rio Grande do Sul. Bruno Peres/Agência Brasil

O estudo destaca que eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, impactam diretamente a oferta de alimentos, tornando-a mais instável. Além disso, a desvalorização do real estimula as exportações, pois torna mais lucrativo vender produtos no exterior e receber em dólar. Esse fator também encarece insumos agrícolas importados, como fertilizantes e defensivos.

Nota de 100 dólares americanos. Valter Campanato/Agência Brasil

A mudança no uso da terra também contribui para o aumento dos preços. Dados do Ibre mostram que a área total plantada no Brasil cresceu de 65,4 milhões de hectares em 2010 para 96,3 milhões em 2023, mas esse avanço se concentrou na produção de soja e milho – culturas voltadas principalmente para exportação. No mesmo período, a área plantada de alimentos essenciais, como arroz e feijão, permaneceu praticamente estagnada.

Impacto na mesa do brasileiro


O estudo revela que os preços de produtos básicos dispararam nos últimos anos. Entre 2012 e 2024, os aumentos foram expressivos: frutas subiram 299%, hortaliças e verduras 246%, cereais, legumes e oleaginosas 217%, e tubérculos, raízes e legumes 188%.

A produção por habitante de alimentos essenciais também caiu. A oferta de feijão por pessoa no Brasil recuou 20% desde 2012, enquanto a de arroz teve queda de 22%. No caso das frutas, a produção per capita caiu 10% para banana, 5,6% para maçã e 20% para laranja.


Grãos à venda em mercado de Brasília.  Joédson Alves/Agência Brasil

A carne bovina também ficou mais cara, impulsionada pelo aumento das exportações e pela redução da oferta. Em 2017, a disponibilidade de carne para o mercado interno era de 39,9 kg por habitante ao ano. Em 2023, esse número caiu para 36,1 kg, o menor nível da última década.

Medidas para conter a alta dos alimentos

O estudo da FGV conclui que a alta dos alimentos não é um fenômeno passageiro e recomenda medidas para garantir o abastecimento interno. Entre as sugestões estão o incentivo à produção de alimentos voltados ao consumo doméstico, recomposição de estoques públicos e melhoria da infraestrutura para escoamento da produção.

Diante da pressão inflacionária, o governo federal anunciou recentemente a isenção do Imposto de Importação para nove tipos de alimentos, além de apostar na supersafra de 2024 para aliviar os preços.

A análise do Ibre reforça que o problema não está na exportação em si, mas na necessidade de equilibrar a produção para garantir que o crescimento do agronegócio não comprometa a segurança alimentar dos brasileiros.

Fonte: Agência Brasil

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