Escolas de São Paulo recomendam série "Adolescência" para pais e responsáveis

Produção da Netflix expõe os perigos das redes sociais e a influência de conteúdos misóginos sobre adolescentes

Série Adolescente - Imagem divulgação Netflix

A série Adolescência, da Netflix, tem gerado grande repercussão entre pais, educadores e especialistas. Aclamada pela crítica, a produção aborda os impactos das redes sociais e a disseminação de conteúdos misóginos, evidenciando como esses fatores podem levar jovens a adotar comportamentos abusivos e até mesmo violentos.

Diante da relevância do tema, escolas de São Paulo passaram a recomendar a série para pais e responsáveis, incentivando discussões sobre a influência digital na formação dos adolescentes. Instituições como a Camino School, o Colégio Miguel de Cervantes e o Colégio Dante Alighieri destacam a necessidade de um debate mais amplo sobre o assunto, envolvendo tanto a família quanto a comunidade escolar.

Diálogo necessário entre escola e família

Para Renata Lima, coordenadora do ensino fundamental 2 e do ensino médio da Camino School, a série representa uma oportunidade de diálogo sobre temas sensíveis da adolescência.

“Não necessariamente porque acreditamos que isso vá acontecer com todos, mas porque abre discussão sobre o cuidado e a conversa”, explica.

A educadora ressalta que a produção conseguiu trazer à tona questões que já fazem parte do dia a dia escolar, mas que muitas vezes são ignoradas fora desse ambiente.

No Colégio Miguel de Cervantes, o diretor de ensino Rudney Soares de Souza também reforça a importância da obra ao abordar o fenômeno da “presença ausente”, no qual os pais acreditam que seus filhos estão seguros apenas por estarem em casa.

“O fato de a criança ‘estar no quarto’ não significa mais ‘estar segura’, pelo contrário”, alerta.

Para ele, a série reforça o que há tempos tem sido debatido na escola: a necessidade de uma participação ativa dos pais na vida dos filhos, não apenas por meio de presentes ou datas comemorativas, mas através do diálogo e da atenção às questões da atualidade.

Discussões e outras recomendações

Já no Colégio Dante Alighieri, a série não foi recomendada de forma direta, mas abriu espaço para reflexões sobre como os pais podem se aprofundar no tema. Para Miriam Brito, coordenadora da Orientação Educacional do colégio, a indicação de filmes e séries deve vir acompanhada de grupos de discussão para que os pais possam compreender melhor o impacto do conteúdo.

Além da série, a escola também recomenda o podcast “Vanessa Cavalieri não quer prender seu filho”, no qual a juíza da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro aborda casos de conflitos e agressões em grupos de mensagens.

“É frequente percebermos que os responsáveis ainda não têm informações suficientes sobre esses temas”, pontua Miriam.

A importância de um acompanhamento especializado

Para a psicóloga e pedagoga Ana Carolina D’Agostini, consultora do Instituto Ame Sua Mente, a recomendação da série deve ser acompanhada de um acolhimento posterior. Segundo ela, o debate com especialistas é essencial para evitar que o impacto da produção gere apenas medo ou angústia entre os pais.

“Não adianta só fazer uma recomendação sem um espaço para acolher as dúvidas e preocupações depois”, afirma.

A especialista destaca ainda o papel da escola na educação midiática, ajudando alunos, pais e educadores a compreenderem os riscos e impactos do ambiente digital.

Ela menciona a obra A Geração Ansiosa, do pesquisador Jonathan Haidt, para ilustrar o desconhecimento dos adultos sobre o universo virtual dos adolescentes.

“Se houvesse um experimento em que enviássemos adolescentes para Marte sem saber o que os espera lá, nenhum pai aceitaria. A internet deveria ser vista da mesma forma”, compara.

Para Ana Carolina, é essencial que as escolas se apropriem desse universo, entendam o vocabulário digital dos adolescentes e ensinem como as ações no ambiente virtual podem ter consequências sérias na vida real.

Reflexão necessária para pais e educadores

A repercussão de Adolescência evidencia uma preocupação crescente sobre o impacto das redes sociais na formação dos jovens e o papel da família na prevenção de influências nocivas. A recomendação da série por escolas paulistas reforça a necessidade de um debate amplo sobre o tema, envolvendo pais, professores e especialistas.

Diante dos desafios da era digital, o alerta é claro: o acompanhamento dos pais na vida dos adolescentes precisa ir além da presença física, exigindo um olhar atento sobre os conteúdos que consomem e os valores que absorvem.

Fonte: Metrópoles

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