Mesmo com redução, área desmatada supera o território do Distrito Federal e ameaça equilíbrio ambiental
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Queda no desmatamento e impactos ambientais
O desmatamento no Cerrado registrou uma redução de 33% em 2024, comparado ao ano anterior, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). No último ano, a supressão da vegetação nativa atingiu 712 mil hectares, contra 1 milhão de hectares desmatados em 2023.
Apesar da queda, especialistas alertam que os números ainda são alarmantes. A área total devastada em 2024 é maior do que todo o território do Distrito Federal e quase o dobro da registrada na Amazônia no mesmo período. A fragilidade do Cerrado, essencial para o abastecimento dos principais aquíferos do Brasil, reforça a necessidade de medidas mais efetivas de preservação.
Expansão agrícola e desmatamento no Matopiba
A maior parte do desmatamento ocorreu em propriedades rurais privadas, onde a legislação permite a supressão de até 80% da vegetação nativa, diferentemente da Amazônia Legal, onde o limite é de 20%. Essa permissividade faz do Cerrado um alvo constante da expansão agropecuária, principalmente na região conhecida como Matopiba – composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Em 2024, o Matopiba concentrou 82% de todo o desmatamento do bioma, com destaque para o Maranhão, que registrou a maior área desmatada (225 mil hectares), seguido por Tocantins (171 mil hectares), Piauí (114 mil hectares) e Bahia (72 mil hectares).
A pesquisadora Fernanda Ribeiro, do Ipam, destaca que o alto percentual de terras privadas ainda disponíveis para desmatamento torna o bioma especialmente vulnerável. “A queda no desmatamento mostra um efeito positivo das políticas de combate, mas o cenário exige ações mais amplas, como incentivos econômicos para a preservação e um maior envolvimento do setor privado”, afirma.
Municípios mais afetados e desafios para o futuro
Os dez municípios com maior desmatamento em 2024 estão todos no Matopiba, sendo cinco no Maranhão, três no Tocantins, dois no Piauí e um na Bahia. Entre eles, Balsas (MA), Alto Parnaíba (MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO) foram os mais afetados, somando 61 mil hectares desmatados.
Além das áreas privadas, o desmatamento também avançou sobre terras sem posse definida e unidades de conservação. A Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins perdeu 12 mil hectares, enquanto o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba registrou 6,7 mil hectares devastados.
Os dados do SAD Cerrado reforçam a necessidade de políticas mais rígidas de proteção ao bioma. Além da fiscalização, especialistas defendem o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e o fortalecimento de mecanismos financeiros que valorizem a preservação da vegetação nativa. Se a tendência de queda continuar, o Cerrado pode encontrar um equilíbrio entre produção e conservação, garantindo sua função essencial para o meio ambiente e a segurança hídrica do país.
Fonte: Agência Brasil