A aranha Vitalius wacketi habita o litoral paulista — Foto: Rogério Bertani/Instituto Butantan |
Uma pesquisa conduzida ao longo de mais de duas décadas identificou no organismo de uma espécie típica do litoral paulista uma molécula com atividade potencial contra tumores, oferecendo uma nova perspectiva no tratamento do câncer.
O estudo, liderado por cientistas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Butantan, ambos em São Paulo, explora o potencial terapêutico de uma substância derivada da Vitalius wacketi, uma aranha encontrada no litoral paulista.
A substância candidata a remédio oncológico não é diretamente extraída do veneno: suas moléculas foram isoladas, purificadas e sintetizadas em laboratório, utilizando técnicas desenvolvidas e patenteadas pelos pesquisadores brasileiros.
Em fases iniciais de pesquisa, a molécula demonstrou ser promissora no combate à leucemia, um tipo de câncer que afeta as células sanguíneas, apresentando vantagens estratégicas em relação aos métodos tradicionais de tratamento, como a quimioterapia.
Entretanto, os estudos com a substância ainda estão em estágios preliminares, exigindo experimentação adicional em células e animais para avaliar sua segurança e eficácia antes de iniciar os testes clínicos em seres humanos. Os pesquisadores já estão em negociação com empresas farmacêuticas para estabelecer parcerias e obter os investimentos necessários para avançar com a pesquisa.
A BBC News Brasil entrevistou os pesquisadores responsáveis pelo estudo do veneno dessa aranha, explorando todos os detalhes do projeto.
O veneno foi extraído da aranha — para depois de estudado ser sintetizado em laboratório — Foto: Thomaz Rocha e Silva/Einstein/BBC |
Décadas de Investigação
O processo teve início há aproximadamente três décadas, quando cientistas do Instituto Butantan realizaram expedições pelo litoral de São Paulo, coletando aranhas em regiões afetadas por movimentos como o desmatamento.
O aracnólogo Rogério Bertani, do Butantan, realizou estudos taxonômicos da Vitalius wacketi e outras aranhas a partir da década de 1990.
Posteriormente, o bioquímico Thomaz Rocha e Silva, hoje no Einstein, investigou as possíveis atividades farmacológicas de substâncias encontradas no veneno dessas aranhas. A pesquisa resultou na identificação de uma molécula com potencial citotóxico contra células cancerosas, iniciando um novo capítulo na pesquisa.
A substância, sintetizada em laboratório por Silva Junior, foi submetida a testes in vitro, revelando uma atividade significativa contra células cancerosas, induzindo a apoptose, um processo mais controlado de morte celular em comparação com a necrose provocada por tratamentos convencionais.
Os próximos passos envolvem avaliações em animais para determinar a eficácia e segurança da substância em organismos mais complexos antes de avançar para testes clínicos em humanos.
O estudo destaca não apenas o potencial terapêutico da molécula, mas também a riqueza da biodiversidade brasileira como fonte de inspiração para pesquisas biomédicas de vanguarda.
A pesquisa visa não apenas trazer benefícios para a sociedade, mas também enfatiza a importância da preservação e exploração responsável da biodiversidade brasileira em busca de soluções inovadoras para uma variedade de doenças.
Fonte: G1