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| Foto: Joshua Howat Berger |
A paisagem árida de Gilbués, no estado do Piauí, lembra Marte, e essa área é a maior zona de desertificação no Brasil, colocando em risco terras e fazendas na região. A desertificação é causada principalmente pela erosão acelerada do solo frágil da área, agravada pelo desmatamento, expansão descontrolada e possivelmente mudanças climáticas.
Ubiratan Lemos Abade, um pecuarista de 65 anos que vive na região, enfrenta essa ameaça diariamente. A diminuição das chuvas o forçou a adotar técnicas de irrigação para sobreviver. Ele cavou um poço e instalou uma rede de mangueiras para irrigar suas pastagens. Abade não está sozinho - centenas de famílias na região estão recorrendo à criatividade e à tecnologia para lidar com as adversidades e destacar o problema da desertificação.
A desertificação de Gilbués é uma combinação de erosão e crescimento econômico desenfreado. A devastação da vegetação, que antigamente ajudava a conter o solo, resultou em grandes áreas de solo erodido e voçorocas profundas, conhecidas como cânions. A região já foi palco da corrida por diamantes e de um auge na produção de cana-de-açúcar. Hoje, é uma das principais produtoras de soja do estado.
Um estudo publicado por Dalton Macambira, historiador ambiental da Universidade Federal do Piauí, em janeiro, revelou que a área afetada pela desertificação mais que dobrou, de 387 km² em 1976 para 805 km² em 2019. Isso afeta cerca de 500 famílias de agricultores. Os agricultores também observaram mudanças nas chuvas, com temporadas mais secas e chuvas curtas, o que piora a erosão.
Fabriciano Corado, presidente do grupo de conservação SOS Gilbués, acredita que o solo da região, riquíssimo em fósforo e argila, pode ser uma vantagem. Ele enfatiza que os agricultores precisam de tecnologia para sobreviver, citando técnicas como a proteção da vegetação nativa, a irrigação por gotejamento, a piscicultura e o cultivo em terraços agrícolas como soluções possíveis.
Enquanto os desafios da desertificação são enormes, a combinação de conservação e tecnologia oferece esperança para a região. Com o manejo correto, Gilbués pode ser capaz de enfrentar o avanço da desertificação e aproveitar seu potencial, incluindo a geração de energia solar.
Fonte: Folha de S. Paulo
